Morreu Georges Moustaki
Era um dos vultos maiores da canção popular francesa. Tinha 79 anos. Milord ou Le
Métèque, símbolo do Maio de 68, tinham a sua assinatura. Edith Piaf, Serge
Reggiani ou Juliette Gréco devem-lhe alguns dos seus maiores êxitos.
O cantor e compositor francês, de
origem grega, Georges Moustaki, (Alexandria, 3 de maio de 1934 - Nice, 23 de maio de 2013), França, aos 79 anos,
completados a 3 de Maio. Nascido no Egipto, em Alexandria, de pais judeus
gregos, ficou conhecido por canções como Le
métèque, uma balada romântica sobre um estrangeiro sonhador com ecos
autobiográficos, que haveria de se transformar num dos símbolos da revolução do
Maio de 68.
É que ele havia crescido num ambiente multicultural, envolvido
por quatro idiomas (italiano, francês, árabe e grego), tendo-se apaixonado
desde cedo pela literatura e pela canção popular francesa, em particular por
Edith Piaf, com quem manteve uma relação afectiva e para quem viria a escrever
o clássico Milord (1958).
Abandonou
os espectáculos ao vivo há quatro anos por causa de uma doença pulmonar que o
impedia de cantar na plenitude. O seu mestre era Georges Brassens, tendo por
isso utilizado o nome Georges como pseudónimo artístico, ele que se chamava
Giuseppe Mustacchi. Chegou a Paris em 1951, tendo nos anos 1960 composto
canções para todos os grandes cantores franceses da época como Henri Salvador,
Yves Montand, Juliette Gréco, Serge Reggiani ou Barbara.
Já esta
manhã, a cantora Juliette Grégo, rendeu-lhe homenagem, descrevendo-o como
alguém requintado, refinado e elegante. "Possuia uma doçura infinita e
imenso talento", disse à RTL. "Era como todos os poetas, alguém
diferente, porque acaba por ser sempre essa diferença que conduz ao
talento."
Com um
repertório de cerca de 300 canções, cantadas por ele, ou por intérpretes como
Reggiani (Sarah, Ma liberté, Ma
solitude ou Votre
fille a vingt ans de
1969) e Barbara (La dame brune de 1968), muitas delas viriam a
transformar-se em clássicos quase instantâneos da canção popular francesa.
A
simplicidade era uma das características dos seus muitos discos. Possuia uma
voz suave e quente, e muitas vezes cantava apenas acompanhado pela sua
guitarra, criando um clima de intimidade que era transposto para os seus
concertos. Inicialmente tinha alguma relutância em afirmar-se como cantor,
preferindo o papel de compositor, mas impulsionado por Reggiani ou Barbara
viria também a assumir esse papel no decorrer do sucesso de Le
Métèque, que viria a originar um álbum com o mesmo nome.
Nos anos
seguintes viria a lançar mais uma série de álbuns, incluindo o disco ao vivo Bobino de 1970, que consolidaria o seu nome
como alguém que emanava uma sensação de liberdade e de harmonia, qualquer coisa
que a música transportava, mas também a sua imagem mediterrânica bronzeada, com
um pouco de romance à mistura - qualquer coisa que o próprio parecia cultivar,
como ficaria demonstrado no sucesso En Mediterranée (1971).
Nos anos
1970 deixa-se fascinar pela música brasileira ou pelo tango argentino -
colaborou com Astor Piazzolla - passando grande parte dos anos 1980 em viagens
e digressões pelo mundo, regressando aos álbuns de originais na década de 1990,
com Mediterranéen (1992)
ou Tout Reste à Dire (1996).
A sua
relação com Portugal é antiga. Para homenagear a revolução de 1974 adaptou uma
canção de Chico Buarque que se viria a tornar emblemática no pós - 25 de Abril,
intitulada Portugal (fado tropical). A
última vez que actuou em Portugal foi em 2008, um ano antes de se retirar e no
seguimento do lançamento do disco Vagabond, na Casa da Música,
no Porto, e no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Considerado
umas das vozes do Maio de 1968, Moustaki afirmou nessa altura à agência Lusa
que dessa revolução “resta uma certa arte de viver, um certo código ético que,
mesmo que não seja unânime, impregnou-se na nossa cultura”.
Poliglota,
gostava de pintar também e, ao longo dos anos, foi sendo também poeta,
escritor, actor ou jornalista. Vivia há cerca de quarenta anos em Paris.
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