Oriundo
de uma família humilde de Sabrosa,
era filho de Francisco Correia Rocha e Maria da Conceição Barros. Em 1917, aos dez anos, foi para uma casa
apalaçada do Porto, habitada por parentes. Fardado de branco, servia de
porteiro, moço de recados, regava o jardim, limpava o pó, polia os metais da
escadaria nobre e atendia campainhas. Foi despedido um ano depois, devido à
constante insubmissão. Em1918, foi mandado para o seminário de Lamego, onde viveu um dos anos
cruciais da sua vida. Estudou Português, Geografia e História,
aprendeu latim e ganhou familiaridade com os textos
sagrados. Pouco depois comunicou ao pai que não seria padre.
Emigrou para o Brasil em 1920,
ainda com doze anos, para trabalhar na fazenda do
tio, proprietário de uma fazenda de café. Ao fim de quatro anos, o tio
apercebe-se da sua inteligência e patrocina-lhe os estudos liceais, em Leopoldina. Distingue-se como um aluno
dotado. Em 1925, convicto de que
ele viria a ser doutor em Coimbra,
o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço,
o que o levou a regressar a Portugal e concluir os estudos liceais.
Em 1928, entra para a Faculdade de Medicina da Universidade
de Coimbra e publica o seu
primeiro livro de poemas, Ansiedade.
Em 1929, com vinte e dois anos,
deu início à colaboração na revista Presença,
folha de arte e crítica, com o poema Altitudes.
A revista, fundada em 1927 pelo grupo literário avançado de José Régio, Gaspar Simões e Branquinho
da Fonseca era bandeira literária
do grupo modernista e bandeira libertária da revolução modernista. Em 1930, rompe definitivamente com a
revista Presença, por
«razões de discordância estética e razões de liberdade humana», assumindo uma
posição independente.
A obra de Torga traduz sua
rebeldia contra as injustiças e seu inconformismo diante dos abusos de poder.
Reflete sua origem aldeã, a experiência médica em contato com a gente pobre e
ainda os cinco anos que passou no Brasil (dos 13 aos 18 anos de idade), período
que deixou impresso em Traço
de União (impressões de viagem, 1955) e
em um personagem que lhe servia de alter-ego em A
criação do mundo, obra de ficção em vários volumes, publicada entre 1937 e
1939. As críticas que fez aí ao franquismo resultaram
em sua prisão (1940).
Casou-se com Andrée Crabbé, em 1940,
uma estudante belga que, enquanto aluna de Estudos
Portugueses, com Vitorino Nemésio em Bruxelas,
viera a Portugal fazer um curso de verão na Universidade
de Coimbra. O casal teve uma filha, Clara
Rocha, nascida a 3 de Outubro de 1955,
e divorciada de Vasco Graça Moura.
Crítico da praxe e das restantes tradições académicas,
chama depreciativamente «farda» à capa e batina. Ama a cidade de Coimbra, onde
exerce a sua profissão de médico a partir de 1939 e onde escreve a maioria dos seus
livros. Em 1933 concluiu a licenciatura em Medicina pela Universidade de Coimbra. Começou
a exercer a profissão nas terras agrestes transmontanas,
pano de fundo de grande parte da sua obra. Dividiu seu tempo entre a clínica de otorrinolaringologia e a literatura. Após a Revolução dos
Cravos que derrubou o regime
fascista em 1974, Torga surge na política para apoiar a candidatura de Ramalho Eanes à presidência da República (1979).
Era, porém, avesso à agitação e à publicidade e manteve-se distante de
movimentos políticos e literários.
Autor prolífico, publicou mais de
cinquenta livros ao longo de seis décadas e foi várias vezes indicado para o Prêmio Nobel da Literatura.
Torga, sofrendo de cancro,
publicou o seu último trabalho em 1993, vindo a falecer em Janeiro de 1995. A
sua campa rasa em São Martinho de Anta tem uma torga plantada a seu lado, em
honra ao poeta. Ver mais.
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