Elefantes Brancos: A Casa do Cinema que nunca foi usada
I
“O arquitecto fez uma obra bonita, mas esqueceu-se da sala de projecções” foi um comentário do realizador Manoel de Oliveira, na primeira visita efectuada à Casa do Cinema. Foi construída na Foz, entre 1998 e 2003, segundo projecto do arquitecto Souto Moura, no âmbito da Capital Europeia da Cultura - Porto 2001, eterminada com 2 anos de atraso. Com um custo inicial de 750 mil euros, é propriedade do município desde então. Após 8 anos permanece por inaugurar.
II
A história da Casa do Cinema vem do interesse do município em reunir o espólio do centenário cineasta num centro de documentação. Fitas, prémios e demais património cultural, propriedade de Manoel de Oliveira, seriam assim conservados num edifício público criado para tal.
O projecto, premiado e documentado, não respondeu porém ao programa. Dificuldades de diálogo ou problemas financeiros, as desculpas sucederam-se desde então perante os erros acumulados.
O acervo cedido pelo cineasta foi colocado, provisoriamente, num apartamento alugado pela CMP, para a sua catalogação. Desde 2005 a renda deixou de ser paga pelo município e passou a ser o realizador a custear a sua conservação.
III
Quanto ao edifico, permanece fechado e sem uso desde então. Construído numa zona residencial da Foz, situa-se escondido e isolado no centro do lote. Sem sinalética ou informação quanto à sua localização, é hoje apenas lugar de romaria arquitectónica, com claros sinais de degradação e vandalismo no exterior.
Para evitar mais degradação a Câmara Municipal do Porto propôs, em 2007, acolher na casa alguns serviços municipais, após algumas obras de remodelação. Os sinais de abandono permanecem inalterados.
O realizador homenageado recusou, em 2011, receber a “Chave da Cidade” no seu 100º aniversário. Argumentou a recusa pelos anos de “comportamento incorrecto” do município para com o seu espólio e para com a Casa do Cinema que nunca o acolheu.
Manuel Rodrigues - http://madespesapublica.blogspot.com/
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